segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um querido amigo me enviou um e-mail, contendo um vídeo sobre amizade, paciência, egoísmo, amor incondicional e aprendizado.

O vídeo dura três minutos.

Por tratar de relacionamentos, é tocante, como tudo o que nos lembra de nossa humanidade – esse combinado do que há de melhor e de pior em nós.

A cena mostra um jardim e um banco. Um senhor e um jovem adulto sentados lado a lado.

O jovem lê seu jornal.

O senhor tem o olhar perdido.

Repentinamente, um pássaro pousa numa arvore próxima.

O senhor pergunta: “O que é aquilo?”.

O jovem perde a concentração na leitura e suspira, com leve impaciência. Olha rapidamente e responde: “É um pássaro.”.

Alguns segundos se passam sem que nada aconteça. Mesmo o pássaro permanece quieto.

O senhor repete a pergunta: “O que é aquilo?”.

O jovem, irritando-se, retruca: “Eu acabei de te falar, pai! É um pássaro.”.

É a vez de o pássaro voar, pousando poucos metros à frente.

O semblante do pai não perde a aura de sincera curiosidade. Eis que volta a indagar: “O que é aquilo?”.

Quase explodindo, o filho desiste do jornal e parte para a ignorância, aumentando o tom de voz: “Um pássaro, pai. Um pássaro. Um pás-sa-ro!”

Quando parece que, finalmente, o pai vai se desculpar com o filho pela insistência incômoda, este se surpreende com mais uma repetição: “O que é aquilo?”. E explode: “Por que você está fazendo isso? Já te falei várias vezes que é um pássaro. Não consegue entender?”

Nem bem acaba o chilique do filho, e o pai já está se levantando do banco. O jovem pergunta para onde o pai está indo. Não recebe palavra, apenas um gesto, para que espere.

O senhor caminha vagarosamente na direção de casa, deixando o filho sozinho no jardim. Até o passarinho voa para longe, abandonando aquele filho insensível em seu remorso silencioso.

O pai volta e se assenta ao lado do jovem novamente. Traz um pequeno caderno, que abre, folheia e passa ao filho. Indica o trecho que deve ser lido. Em voz alta!

O jovem começa: “Hoje, meu filho mais novo, que fez 3 anos há poucos dias, estava sentado comigo no parque, quando um pássaro se aproximou de nós. Meu filho perguntou-me 21 vezes o que era aquilo. E eu respondi todas as 21 vezes que era… um pássaro. Eu o abracei cada vez que ele me fazia a mesma pergunta, uma vez após outra, sem ficar zangado, sentindo carinho pelo meu pequeno garoto.”.

Imóvel, o pai ouviu na voz do filho aquelas palavras já um pouco gastas de tão velhas. E não diz mais nada. Por saber que o aprendizado surte mais efeito se vem de dentro. Permite-se, apenas, um sorriso indefectível, quando o silêncio do filho aparece. Sorri para si mesmo, pois é chegada a hora de deixar de ser pai, para voltar a ser filho.

O jovem tenta fechar toda a sua vergonha dentro daquele pequeno caderno amarelado e leva alguns segundos para desconfiar de que os papéis terão de se inverter.

Tomado por essa suspeita (que o pai já traz como certeza), o filho o abraça com força. A mesma força com que adoraria ser abraçado naquele momento. O pai mantém-se inerte, envelhecido vários anos naqueles 3 minutos.

Nossos relacionamentos são as tarefas mais árduas que temos. Por isso, também lideram a lista de nossas maiores conquistas, de nossos maiores aprendizados.

Não há quem nunca tenha ganhado um grito do pai ou da mãe. E que não tenha gritado de volta. Conviver com irmãos e irmãs também é, muitas vezes, penoso. Mas são as escolas que nos capacitam para as centenas de relações que precisamos construir e praticar durante a vida. É assim que vamos nos tornando pessoas melhores.

Desconfio de que meu pai não tenha um diário como o do senhor da parábola. Mas sei o que ele espera da vida. Sei o que ele espera de mim: é um pássaro, pai… um pássaro… um pássaro… um pássaro… um pássaro…

bjks

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