segunda-feira, 25 de maio de 2009

REPÚBLICA

Costumam-se aduzir, para justificar de alguma forma o nosso atraso em matéria de educação, argumentos históricos, geográficos e econômicos. A descoberta (invasão) do Brasil por Portugal, o sistema escravista com a exclusão dos escravos de toda e qualquer possibilidade de instrução, o clima tropical predominante induzindo à indolência, a pouca valorização dos professores, a falta proposital de investimentos e a ausência da aplicação de verbas públicas para a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, as sucessivas crises econômico-financeiras são quase sempre citados como as razões de nossa desvantagem em relação aos países desenvolvidos. Sabemos, no entanto, que todos esses argumentos não chegam à raiz do problema. Já pensaram que desastre não seria para os políticos se a maioria do povo brasileiro não só soubesse ler e escrever, mas compreendesse o que está escrito ou falado, soubesse ler nas entrelinhas e percebesse o significado das reticências e tivesse a capacidade crítica para separar o trigo do joio?!

E a questão não é de hoje. Vejam só esta citação: “...toda essa gente que, inculta e ignorante, se sujeita a vegetar, se contenta em ocupações inferiores, sabendo ler e escrever aspirará outras coisas, quererá outra situação e como não há profissões práticas nem temos capacidade para criá-las, desejará também ela conseguir emprego público. (Assim) aqueles analfabetos que não se sentiam humilhados cavando a terra ou fazendo recados, quando souberem ler e escrever e comentar os acontecimentos políticos já não se haviam de submeter à velha profissão”. (Carneiro Leão, Brasil, 1916. Citado por Vanilda Paiva(que ñ sou euzinha)rsrs... (História da educação popular no Brasil, 1983, p.92).

Assisti na TV há algum tempo um programa histórico com um título curioso: “A república do Brasil foi declarada na cama”. O Marechal Deodoro, que encabeçava o movimento republicano, ficou doente e acamado, exatamente nos dias decisivos da proclamação. Quando os seus correligionários foram avisá-lo que o maior opositor da República ia assumir o cargo de primeiro-ministro e pediram orientação para o que fazer, o Marechal Deodoro se ergueu um pouco na cama e disse: “Avisem o povo que a República está declarada”. E assim aconteceu.

De maneira semelhante, o artificialmente prolongado atraso educacional do povo brasileiro não se explica pelos argumentos acima citados, e sim, por uma simples entrevista. É um fato curioso e deprimente ao mesmo tempo.

Aconteceu assim: nos anos 90, quando o parlamento brasileiro discutia a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) que deveria orientar todo o nosso sistema educacional, dezenas de repórteres de jornais saíram a campo para entrevistar os parlamentares. Tiveram o cuidado de procurar saber a opinião de políticos expoentes das mais diversas ideologias (se as há no Brasil?!) e sucedeu o milagre: total unanimidade. Todos eles se dispuseram a gravar entrevista, repetindo, feito papagaios, o já escrito no documento do seu partido referente à educação. No entanto, em conversa amigável, distante de gravadores, a conversa era outra.

À pergunta que lhes foi proposta e que tinha o mesmo conteúdo embora se usassem palavras diferentes: “Qual é o seu verdadeiro pensamento a respeito da educação?” A resposta veio didaticamente igual, mesmo que com frases e floreios diversos: “Falar de educação, prometer verbas e investimentos, acenar com leis que aperfeiçoem o sistema e elevem o nível educacional de nossa população é o melhor cabo eleitoral da atualidade. O candidato que fizer isso certamente ganhará grande número de votos. Ah, depois...? Depois a gente esquece o assunto (sic!!!)”.

Simples, não é? Está tudo explicado. Isso nos permite entender por que temos um sistema educacional viciado, autoritário, segregacionista, elitista e capenga que privilegia a competição e negligencia os valores básicos da convivência humana.

BJKS DA VAN

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