domingo, 27 de junho de 2010

A GENTE QUER TER VOZ

Tem uma bela letra de musica do poeta Chico Buarque que se encaixa perfeitamente em alguns momentos do nosso dia-a-dia. É que tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá.
Como tudo é tão cheio de detalhes! Coisas mutantes que, por vezes, me trazem medos e insegurança. Hoje estamos bem, felizes e gritando que a esperança e o amor existem. Vem o amanhã e, sei lá, nos aparece um mundinho cruel, acizentado e sem perspectivas. Li em algum canto que tornar a vida mais simples não significa abrir mão de tudo, mas daquilo que é excessivo. Mas como conseguir isso se estamos na civilização do excesso?
Nos chegam tantas informações que acabam nos trazendo angústias. Essa tal sociedade moderna, informatizada, de consumo, sucesso material e pessoal, as pressões para saber mais, ver mais e ter mais, parecem soterrar, dando a idéia de que somos incapazes de atender adequadamente a todas as demandas.
Gente, precisa ser tão complicado? Não, não precisa. Basta tentar fazer o que gosta e viver de forma mais simples. Como hoje estou um pouquinho triste - e quando estou assim tento imaginar só coisas boas para melhorar – fui buscar na Grécia antiga algumas respostas. Descobri que Plantão e Aristóteles já falavam de uma vida sem excesso ou falta, mas com o suficiente para atender às necessidades, um meio-termo entre a riqueza e a pobreza.
Não sou o profeta das desgraças, amigos. Pelo contrário. Minha vida toda procurei caminhos do equilíbrio e que não se resumem ao chichê da guinada radical ou da renúncia absoluta a um padrão em favor do outro. Simplificar a vida não significa abrir mão de tudo, mas do que incomoda, do que pretende, do que restringe os nossos movimentos e a nossa liberdade. Isso não significa fazer voto de pobreza, mas eliminar excesso que atrapalha, que angustia, que nos coloca em tensão permanente. Claro que não precisamos dormir em cama de pedra. O que precisamos é desenvolver um senso crítico na hora de adquirir coisas.
É muito difícil se pregar a simplicidade no Brasil. É que muitas pessoas não têm sequer o mínimo para sobreviver. A cultura por aqui valoriza o quanto se tem. As pessoas esbanjam diante dos outros, desperdiçam comida, desperdiçam energia. Isso sem falar do instinto egoísta do homem ? da sua vontade de poder, de dominar, de subjugar. Mas tem muita gente que acredita que o egoísmo é um estado natural do ser humano, e que sua valorização constitui, na verdade, a valorização da vida e da individualidade. Cruz credo!
Só de saber que existe uma força ainda maior que o egoísmo, e que rege o indivíduo civilizado, dá vontade de me esconder dentro do armário e nunca mais sair. Falo da hipocrisia. Ela é uma força poderosa e atua junto as relações humanas. Um homem nunca age de acordo com as próprias convicções, pois há sempre um obstáculo moral no meio do caminho, mesmo que não seja possível a ele perceber. A moral foi instituída pela razão, e por um sentimento de hipocrisia. Quando se julga alguém ou alguma atitude alheia, essa é uma atitude hipócrita, motivada por sentimentos morais. Ao julgar uma pessoa, estamos nos esquecendo de que os defeitos nela presentes, também estão presentes em nós, embora em uma magnitude que achamos que seja menor em nossas pessoas.
Um exemplo claro da hipocrisia: nunca dizemos aquilo que realmente queremos dizer a uma pessoa, e isso acontece com maior intensidade quando se tratada de algo considerado ruim. Mentimos, fingimos e dissimulamos simplesmente por uma questão de educação, para que não pensem que não somos civilizados.
Assim, todas as convenções sociais como apertos de mão, saudações e frases cordiais, não refletem o nosso estado de espírito, constituindo assim atitudes hipócritas, mas estamos tão acostumados com elas que nem nos incomodamos com isso. Acho que posso dizer que não há maior demonstração de hipocrisia do que negar que se é hipócrita.
O homem precisa ser entendido primeiro como um animal qualquer, possuidor de instintos, para que depois se possa tentar compreender a sua razão. Existem muitas coisas acima da razão no ser humano, é impossível compreendê-las, mas é preciso considerá-las para que se possa exercer a razão de forma verdadeiramente racional.
É, depois de tudo o que escrevi aqui, me bateu uma grande dúvida. Estou triste sim. Sinto isso por tudo o que não mereci ouvir. Mas será que me bateu também o egoísmo e estou exercendo meu direito de ser, por vezes, irracional e hipócrita?
Sei não. Acho que pirei de vez o cabeção...
bjks

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