segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

EU ME RENDO

Desisto, entrego os pontos. Não escrevo mais amenidades, textos do cotidiano onde buscava sempre o belo, o engraçado, o entretenimento. O alegrar, o arrancar risada, mas sempre levando a alguma reflexão sobre o passar das horas da vida de quem por acaso as lia. Pelo visto, sentida e observada, não anda fazendo bem ser bem-humorada e tentar dividir observações, digamos, inúteis.

Àqueles que muitas e muitas vezes me escreveram, telefonaram ou quando me encontravam, sorrindo compartilhavam alegres de minha forma de registrar a história, peço desculpas. Aos resolvidos, sem perderem a lucidez, o senso crítico e sensibilidade, peço penico, me rendo, jogo a toalha.

Acho que chegou a hora de, como o quibe, me tornar ácida. Joguei a toalha e desci do salto. Parei de brincar.

As pessoas andam ávidas por más notícias, por tragédias, por tristezas. Escondem ou descontam nos acontecimentos o seu próprio sofrer, sua própria indignação e revolta com o que a vida anda a lhes oferecer. Uma forma de compensação, vingança ou triunfo sobre suas existências. Ninguém mais quer rir de si mesmo, nem buscar nas paisagens de seu cotidiano o céu azul, o ipê florido ou a criança sorrindo inocente. É mais fácil e confortante/compensador ver o funesto, o triste. Acompanhar as estatísticas dos acidentes e mortes nas estradas em decorrência dos fins de semana prolongados, a contagem de crimes violentos, os assassinatos em nossos bairros, à nossa porta. Ninguém quer mais o próprio sofrimento e angústias, preferem a dor e o desconforto alheio.

Mas, mesmo assim, ainda me espanto. Ano passado as festas de fim de ano já se anunciavam, e assim, em breve, bem hipocritamente, todos passam a se fazer de felizes e desejar tudo de bom ao próximo. Falsa felicidade, placebo para angústias das vidas. Não se iludam, passou o Réveillon, com o chegar das contas e faturas do cartão de crédito, usado na euforia de um comprar ser feliz, as faces novamente se fecham e novamente passamos a concentrar nossas atenções nas más notícias sazonais. Pois aberta estará a temporada de dengue, enchentes, quedas de barreiras, Pode ser que eu volte ao normal. Mas hoje não estou para carnaval baiano.

Afinal, como disse os mineiro da velha piada, quando perguntado se gostava de nudez: Uai, é claro que gosto! “Nudeis” é melhor do que nosso uai sô.”

Até mais ver. Volto a qualquer momento em edição extraordinária, caso no meu bairro Vila Isabel não acontecer outro acerto de contas entre traficantes do morro dos macacos x são joão(na Barão do bom retiro x faixa de gasa com fronteira para o inferno) ou mais, um político corrupto for filmado recebendo suborno. Ou, quem sabe, um laboratório farmacêutico superfature medicamentos para o SUS, um supermercado que adultera data de validade de tortas de camarão ou, ainda, a nova gripe venha fazer novas vítimas. E mesmo havendo um renovar-se de esperanças, eu me torno, só hoje, em uma grande espírito de porco.

bjks da Vann

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