domingo, 30 de janeiro de 2011

HEEEEELLLLOOOOUUUUU!!! QUEEERIIIIIDOOOOOOOS!!! EDUARDO PAES VS SÉRGIO CABRAL... AAACOOOORDAAAAA!


A maioria dos órgãos governamentais, em todos os níveis, municipais, estaduais e federais, não param de apresentar suas realizações e os progressos alcançados. De fato, nas áreas da tecnologia, ciências, informática e medicina aproximamo-nos dos países desenvolvidos e disso podemos nos orgulhar. Apesar das dificuldades financeiras, da burrocracia que tudo emperra e a complicada tramitação da autenticação do progresso contra as quais o desenvolvimento deve lutar, nossa elite intelectual não desanima e, aos trancos e barrancos, por próprio esforço, amiúde sem nenhum apóio oficial, os resultados aparecem.

Essa política de “substituição”, aliás, é uma das características dos governos brasileiros: incentivar a participação popular, o voluntarismo e a ação popular para realizar o que os órgãos oficiais, apresentando desculpas pouco aceitáveis, deixam de fazer. Assim a população arruma estradas, pavimenta as ruas, instala o sistema de saneamento, constrói poços artesianos, edifica casas populares, assegura a travessia das rodovias para os estudantes com guardas voluntários.

Tudo isso parece interessante, no entanto, o dinheiro público arrecadado com impostos salgados nem sempre são utilizados para o bem público e sabemos que parte do que é arrecadado é desperdiçado em obras desnecessários ou pior ainda, em desvíos para os bolsos de alguns ladrões engravatados. Há inúmeros processos contra o enriquecimento ilícito de centenas de políticos e muitos dos que são acusados sequer são processados em função de acordos políticos de bastidores.

Essas pessoas ridicularizam o “povo inocente” que acredita na propaganda alardeando a tal “governança participativa”, a qual nada mais é que o engodo dos que mandam e desmandam, a seu bel prazer, com o dinheiro do erário público, leia-se: com o dinheiro dos impostos pagos pela população honesta.

E aqui entra em cena o realismo. Os resultados científicos que enaltecem o nosso país só serão consolidados, ampliados e universalizados se houver um sistema de educação à altura. Não é suficiente termos ótimas universidades para a formação de nossos cientistas e técnicos, é preciso que haja uma educação doméstica e escolar visando o respeito mútuo, a honestidade, a ética, a sinceridade, a colaboração, a solidariedade e a responsabilidade, inclusive para com os deveres sociais. Nossas escolas preparam nossos filhos para o mercado competitivo, para o egoísmo, para o beneficio próprio em detrimento dos outros.

Cada vez mais a famosa “Lei de Gérson” que é levar vantagem em tudo vigora na mente das pessoas como se a desonestidade fosse o caminho para o sucesso. Nosso grande problema não é somente a falta de escolas, mas sim escolas de qualidade que preparem seus alunos com valores universais reconhecidos por todos os povos, e não somente conhecimentos técnicos para serem mais uma peça na engrenagem do processo produtivo.

Como se isso não bastasse, os estudos no nível fundamental são de péssima qualidade; os professores têm uma formação precária, além de mal-remunerados; os alunos terminam os seus cursos semi-analfabetos ou analfabetos funcionais, sem entender o que leram; não há a mínima preocupação para a educação moral e para a cidadania; a pobreza e a miséria tende a se agravar com a concentração da renda, não permitindo uma convivência pacífica e um lar onde se aprende a ser gente de bem. Resultado: ninguém é de ninguém, “cada um por si e Deus por todos” ou em outras palavras “o mundo é dos espertos!”

Costumam-se aduzir, para justificar de alguma forma o nosso atraso em matéria de educação, argumentos históricos, geográficos e econômicos. A descoberta (invasão) do Brasil por Portugal, o sistema escravista com a exclusão dos escravos de toda e qualquer possibilidade de instrução, o clima tropical predominante induzindo à indolência, a pouca valorização dos professores, a falta proposital de investimentos e a ausência da aplicação de verbas públicas para a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, as sucessivas crises econômico-financeiras são quase sempre citados como as razões de nossa desvantagem em relação aos países desenvolvidos.

Sabemos, no entanto, que todos esses argumentos não chegam à raiz do problema. Já pensaram que desastre não seria para os políticos se a maioria do povo brasileiro não só soubesse ler e escrever, mas compreendesse o que está escrito ou falado, soubesse ler nas entrelinhas e percebesse o significado das reticências e tivesse a capacidade crítica para separar o trigo do joio?!

E a questão não é de hoje. Vejam só esta citação: “...toda essa gente que, inculta e ignorante, se sujeita a vegetar, se contenta em ocupações inferiores, sabendo ler e escrever aspirará outras coisas, quererá outra situação e como não há profissões práticas nem temos capacidade para criá-las, desejará também ela conseguir emprego público. (Assim) aqueles analfabetos que não se sentiam humilhados cavando a terra ou fazendo recados, quando souberem ler e escrever e comentar os acontecimentos políticos já não se haviam de submeter à velha profissão”. (Carneiro Leão, Brasil, 1916. Citado por Vanilda Paiva (que ñ sou euzinha) rsrs... (História da educação popular no Brasil, 1983, p.92).

Assisti na TV há algum tempo um programa histórico com um título curioso: “A república do Brasil foi declarada na cama”. O Marechal Deodoro, que encabeçava o movimento republicano, ficou doente e acamado, exatamente nos dias decisivos da proclamação. Quando os seus correligionários foram avisá-lo que o maior opositor da República ia assumir o cargo de primeiro-ministro e pediram orientação para o que fazer, o Marechal Deodoro se ergueu um pouco na cama e disse: “Avisem o povo que a República está declarada”. E assim aconteceu.

De maneira semelhante, o artificialmente prolongado atraso educacional do povo brasileiro não se explica pelos argumentos acima citados, e sim, por uma simples entrevista. É um fato curioso e deprimente ao mesmo tempo.

Aconteceu assim: nos anos 90, quando o parlamento brasileiro discutia a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) que deveria orientar todo o nosso sistema educacional, dezenas de repórteres de jornais saíram a campo para entrevistar os parlamentares. Tiveram o cuidado de procurar saber a opinião de políticos expoentes das mais diversas ideologias (se as há no Brasil?!) e sucedeu o milagre: total unanimidade. Todos eles se dispuseram a gravar entrevista, repetindo, feito papagaios, o já escrito no documento do seu partido referente à educação. No entanto, em conversa amigável, distante de gravadores, a conversa era outra.

À pergunta que lhes foi proposta e que tinha o mesmo conteúdo embora se usassem palavras diferentes: “Qual é o seu verdadeiro pensamento a respeito da educação?” A resposta veio didaticamente igual, mesmo que com frases e floreios diversos: “Falar de educação, prometer verbas e investimentos, acenar com leis que aperfeiçoem o sistema e elevem o nível educacional de nossa população é o melhor cabo eleitoral da atualidade. O candidato que fizer isso certamente ganhará grande número de votos. Ah, depois...? Depois a gente esquece o assunto (sic!!!)”.

Simples, não é? Está tudo explicado. Isso nos permite entender por que temos um sistema educacional viciado, autoritário, segregacionista, elitista e capenga que privilegia a competição e negligencia os valores básicos da convivência humana.

Nos orgulhamos com o aumento constante do nosso PIB, com a diminuição das taxas de Juros, o equilíbrio do câmbio e da nossa moeda, mas não nos empenhamos a formar cidadãos honestos, comprometidos com o bem coletivo e com a preservação da natureza. Estamos vivendo num mundo de fantasia, num otimismo sem fundamentos, não conseguimos vislumbrar, nem mesmo a médio e a longo prazo, uma real melhoria da situação em que nos encontramos atualmente se a base da educação não for modificada. A tarefa é árdua, mas tem que ser enfrentada. Avante Brasil!

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