segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O ARTISTA TEM QUE IR AONDE O POVO ESTÁ: E COM CERTEZA NÃO ESTÁ NAS BIENAIS

O caso de Caroline Pivetta da Mota, de 23 anos, libertada na sexta-feira da semana passada, ficou presa por 50 dias por pichar a Bienal de São Paulo. Sua prisão deveria gerar um movimento nacional exigindo explicações sobre a absurda situação.

Ela deve ser uma das poucas pessoas no mundo presas por criticar um evento cultural. Nessa bienal, cujo lema ironicamente é ”Em Contato Vivo”, a única coisa viva e relevante foram os pichadores. O resto será esquecido por sua absoluta irrelevância. A bienal é mais um processo social que se mantém por pura inércia. Já morreu, só falta avisar artistas, curadores e o distinto público.

Até a década de 1950 eram comuns os ditos salões de arte, com suas premiações. Tinham o dom de sacramentar o que era tido oficialmente como arte. Isso gerava prestígio aos premiados, aumentava o valor das suas obras e lhes permitia viver da sua arte. Eram artistas ”incrementalmente inovadores”, pois, se fossem “radicalmente inovadores”, seriam rejeitados. Os que não eram escolhidos passaram a expor em espaços alternativos, fora do circuito oficial. Mostravam ao grande público o que estava sendo produzido de novo. Paradoxalmente, os artistas rejeitados, por apresentarem algo radicalmente novo, tinham dificuldade em vender seus trabalhos e, para sobreviver, tinham que se submeter ao gosto do público, fazendo uma arte ajustada, concedida, ao gosto do cliente.

A arte por definição é novidade, originalidade. Resulta da tentativa de interpretar o mundo de uma nova forma, um novo ângulo. Se não é novo nem original nem emociona: não é arte. É artesanato.

A arte vive de negar a arte. Assim como a ciência vive de negar a ciência. Tudo que é sólido desmancha no ar, no dizer de Engels e Marx. Ou ainda: ”Cesse tudo o que musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”, como diria Camões. Assim é a arte. Sempre provisória, efêmera. Porém, independentemente disso, há o fazer artístico, uma força que acompanha a humanidade desde as cavernas de Lascaux, de Lagoa Santa, até os muros e telas de LCD de hoje. Mudam o suporte, os materiais, as técnicas, porém a arte continua a desafiar tudo o que já foi feito. Inova, contesta, propõe, derruba, cria e recria. Até a exaustão. Segue a humanidade em sua trajetória, interpretando e propondo novas visões, novas possibilidades. Numa busca frenética da arte pela arte.

Os salões querem enquadrar a arte, com seus curadores e críticos, pretendendo isolar o verdadeiro artista do mero artesão. E tudo se transforma em “instalações”, happenings, prontamente documentado em vídeo, carimbado como “arte”. Há falta de coragem para dizer que há muita bobagem, muita coisa inútil, muito lixo, rotulado como arte.

Mesmo correndo o risco de ser tachado de reacionário, pequeno-burguês, alguém que não entendeu a “idéia”, a “mensagem”, o que o artista ”queria-dizer”.

Portanto, caro leitor, não há mais sentido na arte oficial. O artista, como diria Milton Nascimento, tem que ir aonde o povo está. E com certeza o povo não está nas bienais. Nem nas galerias dos museus ”oficiais”. O povo continua nas ruas. Talvez a grande mostra de arte hoje ocorra nas feiras livres. Nas calçadas. Nos quadros expostos aos domingos nas feiras hippies e outras que proliferam pelo Brasil. Sempre alguém vai dizer: mas isso não é arte. É mera cultura. É comércio. E, ainda assim, podemos pedir: justiça para Carol, já!


BJKS DA VAN

Um comentário:

Anônimo disse...

ARREBENTOUUUUUUUUUUU!!!
AMEI O TEXTO...É VERDADE SIM!
O ARTISTA TEM QUE IR AONDE NÓS ESTÁ.
ESSAS BIENAIS SÃO UM HORROR...
OS PREÇOS MUITO CAROS.
QUAL O POBRE QUE TEM DINHEIRO PARA ISSO?
VAN,
VOCÊ E MARAVILHOSA!!!
TE AMO MUITO LINDA!
ASS:PAULO R.ABREL