sábado, 21 de agosto de 2010

Assistindo hoje a guerra do trafico no bairro de São Conrado, lembrei que num domingo de junho de 2002, o jornalista da TV Globo Tim Lopes subiu mais uma vez em uma favela do Rio de Janeiro, com o intento de colher informações e imagens sobre o tráfico de drogas e a exploração sexual de menores. Premiado repórter investigativo, teve sua carreira marcada por reportagens-denúncia sobre a vida precária dos brasileiros pobres e o descarado tráfico e consumo de drogas no país. Do morro não desceu. Foi preso por criminosos, torturado, julgado sumariamente, condenado à morte violenta e o corpo ou o que restava dele colocado no “micro-ondas”, para incineração e desova. Depois do crime descoberto, morto pranteado e muitas homenagens em reconhecimento à coragem do repórter que pagou com a vida a procura da verdade.

Tim Lopes, no dia 28 de março daquele ano de 2002, esteve em um evento aqui no bairro de Vila Isabel. Ele e mais um montão de jornalistas da Globo, SBT, Band e várias rádios do Rio. Afinal era o evento de um amigo nosso(o jornalista Argemiro)...Tim estava sempre cercado de amigos, contando suas histórias, suas aventuras. E tome Prêmio Esso! Mas num cantinho da quadra da escola de samba de Vila Isabel, tivemos alguns minutos para um papo exclusivo. Recomendei que ele desse uma parada nessa história de estar indo quase todo fim de semana para as favelas do Rio. Que isso estava começando a ficar perigoso...Tim concordou, mas disse que estaria investindo num grande assunto e que, depois, certamente tentaria tirar férias dos morros. Demos, a seguir, um grande abraço e brindamos pela decisão. Mas ele acabou não conseguindo...

E os assassinos? O que aconteceu com os frios e cruéis assassinos? Alguns deles cumpriam a pena em regime semiaberto.

Saíram para trabalhar pela porta da frente e não voltaram mais.

Aproveitaram-se do benefício para “escafeder-se”. Outros envolvidos, criminosos perigosos, também se encontram em vias de receber, abalizados pela progressão do regime, o benefício da liberdade. E com asas livres para voar, sabe-se lá pra onde...

Questiona-se muito a situação do menor infrator no Brasil. Não obstante esta questão ser muito importante é urgente discutir não só este problema, mas debruçar-se aprofundada e seriamente sobre o Código Penal e de Processo Penal. Vivemos hoje um tempo de violência sem limites, incontrolável. O cidadão clama por medidas severas em relação à Segurança Pública. Vamos continuar falando hipocritamente em ressocialização de presos, na sua recuperação e mantendo cadeias infernais, sistemas penitenciários decadentes, escolas de crime ou vamos de fato encarar a questão? Quem pratica crime deve ser punido exemplarmente, com base em normas que sirvam a este propósito, que ao mesmo tempo sejam legais e morais.

Que governantes e parlamentares tomem medidas eficazes para acabar de vez com a impunidade que existe no país, impunidade muitas vezes estimulada pela própria legislação. É tempo de agir, de decidir para melhor, chega de discurso vazio e enrolação!

As pessoas andam ávidas por más notícias, por tragédias, por tristezas. Escondem ou descontam nos acontecimentos o seu próprio sofrer, sua própria indignação e revolta com o que a vida anda a lhes oferecer. Uma forma de compensação, vingança ou triunfo sobre suas existências. Ninguém mais quer rir de si mesmo, nem buscar nas paisagens de seu cotidiano o céu azul, o ipê florido ou a criança sorrindo inocente. É mais fácil e confortante/compensador ver o funesto, o triste. Acompanhar as estatísticas dos acidentes e mortes nas estradas em decorrência dos fins de semana prolongados, a contagem de crimes violentos, os assassinatos em nossos bairros, à nossa porta. Ninguém quer mais o próprio sofrimento e angústias, preferem a dor e o desconforto alheio.

Me espanto. Ano passado as festas de fim de ano já se anunciavam, e assim, em breve, bem hipocritamente, todos passam a se fazer de felizes e desejar tudo de bom ao próximo. Falsa felicidade, placebo para angústias das vidas. Não se iludam, passou o Réveillon, com o chegar das contas e faturas do cartão de crédito, usado na euforia de um comprar ser feliz, as faces novamente se fecham e novamente passamos a concentrar nossas atenções nas más notícias sazonais. Pois aberta estará a temporada de dengue, enchentes, quedas de barreiras, Pode ser que eu volte ao normal. Mas hoje não estou para carnaval baiano.

Até mais ver. Volto a qualquer momento em edição extraordinária, caso na favela da Rocinha tenha outro confronto, ou no meu bairro Vila Isabel não acontecer outro acerto de contas entre traficantes do morro dos macacos x são joão(na Barão do bom retiro x faixa de gasa com fronteira para o inferno) ou mais, um político corrupto for filmado recebendo suborno. Ou, quem sabe, um laboratório farmacêutico superfature medicamentos para o SUS, um supermercado que adultera data de validade de tortas de camarão ou, ainda, a nova gripe venha fazer novas vítimas. E mesmo havendo um renovar-se de esperanças, eu me torno, só hoje, em um grande espírito de porco.

Bjks

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