quarta-feira, 1 de abril de 2009

MINHA VIDA DE OUTONO



Minha vida de outono, parei um pouco, na varanda, para olhar as árvores do quintal.

Tempo árido e nublado me lembrou qualquer coisa como prisão de alma. Ventinho quase irrespirável derrubava folhas secas e as fazia voltear pelo chão, como se executassem, mãos dadas com poeira fininha, estranho bailado de despedida, na cadência de acordes longínquos de Villa Lobos. Sabiá tresvariado ensaiava seu canto de nostalgia, talvez buscando lugar onde construir ninho, no outro lado da rua, em quintal vizinho.

Com pés de pluma, ele se aproximou e olhou para o que eu olhava. Encarou-me e, como se exercitasse especialíssimo dom de decodificar mensagens subliminares e decifrar meandros, pôs-se a tecer comentários, voz doce de veludo, com a clara intenção de resgatar-me.

Vida de outono e sempre triste, seja como estação do ano, seja como metáfora sugestiva de fase da vida. É certo que, logo depois da estação outono, vêm a primavera, que é recomeço. A natureza rebrota, exuberante; vem a florada, na forma de explosão de cheiros e cores. E surgem os frutos, as sementes e a chuva. É a oportunidade do verão.

À fase outonal da vida, não se segue primavera nenhuma. Nem mesmo verão. Seria querer perpetuidade impossível e indesejada né? No entanto, o que vem após o nosso outono pode ser transformado em início de qualquer coisa boa, alegre e saudável. Depende do nosso firme e decidido querer, do arbítrio pessoal de que ainda somos.

A propósito da circunstância, que tal recordar aquele Fernando Pessoa de quem tanto fala? Pois modifique o verso dele! Assim, por exemplo: viver sempre vale a pena, se a alma não é pequena.

Venha aqui, firmemos, nesta encruzilhada aparentemente sombria, o compromisso de tornar palatável o tempo. Que tal uma reavaliação de hábitos e idéias? Que tal uma chacoalhada na vida profissional.

Abracei-o. Acho que falei agradecimento e alguma coisa de amor. Preferi silenciar-me, quanto ao compromisso sugerido, porque ele já estava selado, no meu íntimo.

Vou continuar no exercício, da profissão recente. Afinal, ela veio depois da psicólogia, como se fora uma correção de rumo. Continuarei a fazer poemas pobrezinhos e arremedos de crônica. Delineei sonhos de longo prazo. Permanecerei sócia dos pagodes da minha Vila Isabel, com a galhardia possível, as dores que me aguardam. Estou contando com a ajuda de Deus.

Assumi, ainda tacitamente, outros pequenos compromissos. Não vou revelá-los, no entanto, que não pretendo reescravizar-me a nada, nem receber cobrança.

( Se o querido amigo (a) notou um certo travo de tristeza, no texto que acaba de ler e nesta aprendiz de cronista, devo dizer-lhe que as dores já são passadas, choveu e a alegria de estar viva retornou, inteira.

bjks da Van

Um comentário:

Anônimo disse...

Vela crônica, um pouco de nós nela, creia, bjs, show!!!sensível....
Pappabill