segunda-feira, 8 de novembro de 2010


Pedrinho era terrível na escola, sempre foi, mas era também um gênio da síntese. Em certa aula, a pedido da professora de História, sintetizou lindamente o tema "A Realeza, o Sexo e a Religião" com a seguinte frase:

- E aí a Rainha disse: "ai, meu Deus, como foi bom!".

Esse poder de síntese do Pedrinho baixou em mim ao analisar a inegável volúpia; a atração irresistível, a luta aguerrida, o vício de tomar mais uma dose de poder, a corrida desenfreada (às vezes, sem nenhuma ética ou honestidade), com que homens e mulheres políticas se agarram a cargos, benesses, poder e... mandatos. Assistimos a pessoas em combates verbais pelo almejado prêmio. Frementes, olhos esgazeados como zumbis a mirar a urna e uma cadeira com seu nome como se isso fosse o passaporte para a eternidade. Agarram-se aos cargos como baratas na rolha que flutua correnteza abaixo.

É um espetáculo bizarro, mas compreensível, pela natureza do homem, quando ficamos sabendo dos valores que envolvem uma eleição e quanto se gasta na busca desse lugar de refrigério que é o poder. Centenas de milhões de reais.

Puxa - diria o mais simplório raciocínio - se o candidato pusesse essa grana toda num projeto para a criação de indústrias produtivas com gestão eficiente faria tanto bem à sociedade que os empregos gerados e as famílias formadas com estrutura e apoio comporiam uma sociedade melhor, com direito a respeito e urbanidade, e não a esmolas.

Poderíamos até, pasmem!, neutralizar a ignorância.

Por que, então, jogar toda essa grana na fogueira de uma eleição, pagando panfletos, cartazes, santinhos, adesivos, agências, marqueteiros (uns poucos até competentes), gravações, estúdios, veículos, combustível, cabos eleitorais, entre centenas de outras despesas decorrentes da candidatura e do pleito?

Devo ser mesmo um idiota sonhador e ingênuo, porque imagino com minha mente simplória, porém não à venda, que essa grana toda poderia fazer muito bem para a sociedade, as pessoas, as famílias, as crianças.

Enfim levar a todo esse imenso país, de pessoas boas e carentes, um pouco mais de dignidade, se fosse investida em educação, saúde, segurança e outros artigos de primeiríssima necessidade.

Mesmo assim, repudiando a utilização ostensiva e ofensiva de tanto dinheiro, jamais anularei meu voto. Mas, às vezes, dá uma vontade danada de nos transformarmos em terroristas eleitorais, saindo por aí a boicotar e criticar candidaturas de pessoas de discurso vazio, eleitoreiro e demagogo. E a pregar, como no deserto, o não-voto, só de brincadeira. Como por exemplo: Não vote no Temer: porque não convence ninguém nessa Terra.

Não vote na Dilma: porque é terrorista desde menina. Estes bem que poderiam ser slogans de um posicionamento reativo, anárquico e debochado. E em minha defesa eu explicaria: "...mas géntem, foram eles que começaram".

Que o deboche fique somente entre nós, porque jamais anularia meu voto nem recomendaria a ninguém que o fizesse.

Olhe bem as fotos dos candidatos na urna e pense que está entregando a essa pessoa a sua senha de acesso ao cofre. E que essa pessoa tem a obrigação de colocar seu coração, sua inteligência e bondade na aplicação dos recursos públicos. É o que esperamos dos governantes.

Mas temos que reconhecer: é muita grana. Por isso é que posso parodiar a rainha do Pedrinho, sendo muito sintética na minha conclusão sobre o que motiva essa fissura eletiva: "ai, meu Deus, como é bom!".

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