terça-feira, 4 de novembro de 2008

ISTO E NOSSO BRASIL



Lá vem o Brasil descendo a ladeira



Só muito recentemente, ao assistir o depoimento dado por Moraes Moreira a um instituto cultural sobre as venturas e desventuras dos Novos Baianos, grupo musical fantástico, que oxigenou de brasilidade e irreverência a MPB dos anos 70, foi que tomei conhecimento que a antológica música “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira” surgiu, na verdade, de uma observação prosaica, bestinha mesmo, dessas de rua, saída da boca de... tcham-tcham-tcham-tcham!...da boca de ninguém mais, ninguém menos do que João Gilberto!!, do mestre João Gilberto, do inatingível João Gilberto, do idolatrado-salve-salve João Gilberto, gênio-compositor-inventor-intérprete-instrumentista-ícone e fundador da Bossa Nova, num dia em que assim, discretamente, quase que escondido, lá pros idos dos anos 60/70, o gênio amparava e ambientava generosamente aqueles jovens músicos (baianos como ele) na selva de pedra que era, e ainda é o Rio de Janeiro.

Bastou que João Gilberto visse uma mulata linda e rebolante descendo uma das muitas escadas que ligam o morro ao asfalto carioca pra que João virasse pra aqueles músicos doidaços e comentasse: ... – olhem aí! Lá vem o Brasil descendo a ladeira...

Observação essa que virou música, espécie de hino à mulher brasileira, cantada de norte a sul e por uma geração inteira, principalmente pela minha.

Estou tocando nesse assunto por conta das eleições passada.

Nos mais de quinze anos em que me escondo numa casinha maneira que faz divisa entre o bairro de Vila isabel e grajaú, costumo acompanhar da minha janela, nos dias de eleição, o sobe-e-desce de pessoas humildes que moram lá pra cima da comunidade do morro dos macacos, dezenas, centenas de pessoas humildes, milhares delas que descem a ladeira e que se dirigem às suas seções eleitorais pra exercerem o direito ao voto, neste país em que muitos ainda teimam em chamar de República.

É um lindo espetáculo. Um comovente espetáculo humano onde a gente do asfalto e do morro se apresenta dignificada, altiva, soberba, majestosa, velhos casais, jovens , famílias inteiras, levando crianças pelas mãos, todos com suas roupas domingueiras, (de ver Deus), pessoas convencidas da importância do único voto que possuem e que julgam ser o suficiente pra melhorar o destino de sua rua, de sua comunidade, de sua família, de si próprios e até da nossa cidade maravilhosa.

Numa hora dessas, me sinto reconfortada: bem ou mal, manipulada ou não, consciente ou inconscientemente o povão mostra a sua força silenciosa, a sua imensa força, a única que legitima e sacramenta o poder que ele, o povo concede aos que aspiram ser nossos próximos governantes.

Torço pra que o pessoal tenha votado direitinho dessa vez. No fundo, no fundo, torço mesmo é pra que o povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados de tanto sofrimentos seja minimamente respeitado pelos vitoriosos de amanhã. Respeitado e temido, porque, se não for assim, não tem problema, a gente aprende, a gente assunta melhor, a gente deixa de ser bobo e daqui a mais quatro anos, a gente volta. Tremei, candidatos! Prestai atenção: lá vem o Brasil descendo a ladeira.


bjks da van

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