quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MAIS UMA VEZ VAMOS ESQUECER NOSSAS TRAGÉDIAS



Vejo os noticiários das enchentes em Minas e Santa Catarina e fico preocupada. Os repórteres comentam as tragédias como se fossem meros fenômenos climáticos contra que os seres humanos nada podem fazer.

Dizem que choveu de modo excepcional, ao mesmo tempo em que mostram pessoas apontando até onde a última enchente subiu, na mesma altura da atual. São apenas décadas entre as tragédias. Será que não se aprende nada?

A televisão enfoca os dramas particulares, das famílias que perderam tudo, dos pais que perderam os filhos, animais arrastados, morros desabando sobre as casas chiques. Ratificando a gravidade da situação: afetou até gente rica! Como se tudo fosse evento natural, inevitável.

Os repórteres insinuam que é a natureza se vingando dos maus-tratos. É Gaia, o planeta vivo, que reage aos ataques humanos. É o aquecimento global. Pode até ser que seja. Mas certamente é apenas parte da história. O que a televisão não mostra é que tudo isso poderia ter sido evitado, ou minimizado drasticamente, se as pessoas e, principalmente, o poder público, tivessem feito a sua parte.

Depois das várias e recorrentes enchentes, de Norte a Sul do país, já é tempo de mudar a forma de agir. As pessoas devem ser convencidas a abandonar as áreas de risco. A Constituição de 1988 obrigou os municípios brasileiros a desenvolver planos diretores versando sobre a ocupação e uso do solo. Falta vontade política para implementá-los. Há preceitos universais que, se forem seguidos, reduzirão drasticamente das catástrofes.

Por exemplo: não é permitido construir nas margens dos rios nem nas encostas. Não é possível cortar os morros de qualquer forma, com taludes inviáveis, pois nas primeiras chuvas virá tudo, literalmente, por água abaixo. Por que o poder público permite a construção de casas em lugares sabidamente invadidos por enchentes no passado?

Onde estão as barragens de cabeceira dos rios que cortam as cidades?

Temos barragens que, comprovadamente, seguram as águas, evitando enchentes. São barragens capazes de segurar milhões de metros cúbicos de água para depois liberá-las lentamente. Evitam enchentes, regularizam a vazão dos rios e ainda geram energia. Por que nada disso foi feito na bacia do Itajaí? Por que o curso dos rios não foram retificados, acelerando o fluxo das águas? Onde estão os muros de arrimo nas encostas e nos cortes das estradas? Onde estão as canalizações para dar vazão às águas, não nos dias normais, mas nas enchentes excepcionais?

Até quando os políticos vão continuar a fazer média em época de eleições, prometendo regularizar invasões e ocupações em áreas de risco. Podem anotar: daqui a cinco, seis anos, teremos esquecido essas tragédias. E tudo voltará ao normal. O rio será mais uma vez domado, acomodado em leito estreito. As barragens serão esquecidas no emaranhado das questões ambientais. E tudo ficará em paz, até que venha uma nova tragédia, dita “natural”, e os repórteres, sem memória, sairão de microfone em punho relatando tragédias e dramas humanos, sem saber que foram anunciados e que são totalmente evitáveis.

bjks da van

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