sábado, 3 de janeiro de 2009

A PROPÓSITO DO GERUNDISMO



Tenho acompanhado, pela imprensa, a quase polêmica sobre o que estão chamando de gerundismo. A maioria dos que se manifestaram, até agora, a respeito – gente capacitada ou não – rotulou o modismo lingüístico de erro gramatical.

Sobre o assunto e pelo que me toca, gostaria de registrar minha humilde opinião: não vejo erro grosseiro nesse modo de falar que, pelo que se diz, foi inventado pelos operadores de telemarketing. Trata-se apenas de mais uma das imponderáveis ocorrências lingüísticas, que podem desaparecer rapidamente, da mesma maneira como surgiram. Ou podem acabar incorporando-se à norma culta.

Língua viva é assim mesmo, amigos queridos. É dinâmica. Modifica-se e se transforma, diuturnamente. Palavras e expressões nascem (neologismos), envelhecem (arcaísmos) e morrem.

Concedo que existam princípios pétreos, isto é, fundamentos que são imutáveis, porque pertencem à essência mesma do idioma. Dou exemplo: verbo sempre concorda com o sujeito, em pessoa e número. Claro que há algumas escassas exceções, já consagradas pelo uso. Em se tratando de sujeito composto, as exceções são um pouco mais numerosas.

Achei irretocável o gerúndio usado pela cantora Sandy, neste trecho de entrevista: “No segundo semestre, eu e Júnior estaremos fazendo turnê pelo Brasil.” Também nesta fala telefônica de minha secretária, não vi tanto erro assim: “Amanhã, logo cedo, estarei enviando-lhe os documentos necessários”. Ora, exigir que a moça falasse “Amanhã, logo cedo, enviar-lhe-ei os documentos necessários” seria, no mínimo, excessivo. Principalmente se se levasse em conta a realidade brasileira.

Pelo que posso perceber, os críticos do uso do gerúndio com auxiliar no futuro estão vendo erro no aspecto freqüentativo da locução verbal resultante. Ainda assim, entendo a censura incabível, no caso da expressão da cantora Sandy: o processo verbal em curso, mesmo no futuro, traduz perfeitamente o que ela pretendeu dizer. Na fala da minha secretária, a crítica pode até ter alguma motivação plausível. Mas nada que venha a merecer censura tão contundente.

Como o pessoal que se vale da mídia gosta de preocupar-se com coisinhas tão bobas! Há tanto assunto importante, para ser levado à discussão pública!

De mais a mais, em questão de linguagem, o povo é o soberano – como dizia Virgílio, na sua “Ars Poetica”.

Falei em futuro e me veio à lembrança Manuel Rodrigues Lapa, filólogo português da segunda metade do século passado. Em um dos seus livros (“Estilística da Língua Portuguesa”), ele chama a atenção do leitor para certos efeitos que o uso do futuro do presente pode provocar. Exemplifico, à minha maneira: se pessoa que me deve disser que pagará a dívida amanhã, devo deixar um pé atrás. O devedor talvez não tenha real intenção de honrar o compromisso. Mas se ele usar o presente (pago amanhã), posso confiar. A dívida vai ser paga, com certeza.

O que disse, nos últimos períodos do parágrafo anterior, foi de brincadeira, amigos atenciosos.rsrsrs

BJKS DA VAN

Um comentário:

Anônimo disse...

Putz!!!!!!! forma nominal do verbo,eu em lembro, me lembro, era pequenino o mar bramia rsssssss
Pappabill