quinta-feira, 19 de maio de 2011

LÁ VEM O BRASIL DESCENDO A LADEIRA





Lá vem o Brasil descendo a ladeira. S
ó muito recentemente, ao assistir o depoimento dado por Moraes Moreira a um instituto cultural sobre as venturas e desventuras dos Novos Baianos, grupo musical fantástico, que oxigenou de brasilidade e irreverência a MPB dos anos 70, foi que tomei conhecimento que a antológica música “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira” surgiu, na verdade, de uma observação prosaica, bestinha mesmo, dessas de rua, saída da boca de... tcham-tcham-tcham-tcham!...da boca de ninguém mais, ninguém menos do que João Gilberto!!, do mestre João Gilberto, do inatingível João Gilberto, do idolatrado-salve-salve João Gilberto, gênio-compositor-inventor-intérprete-instrumentista-ícone e fundador da Bossa Nova, num dia em que assim, discretamente, quase que escondido, lá pros idos dos anos 60/70, o gênio amparava e ambientava generosamente aqueles jovens músicos (baianos como ele) na selva de pedra que era, e ainda é o Rio de Janeiro.

Bastou que João Gilberto visse uma mulata linda e rebolante descendo uma das muitas escadas que ligam o morro ao asfalto carioca pra que João virasse pra aqueles músicos doidaços e comentasse: ... – olhem aí! Lá vem o Brasil descendo a ladeira...

Observação essa que virou música, espécie de hino à mulher brasileira, cantada de norte a sul e por uma geração inteira, principalmente pela minha.

Estou tocando nesse assunto por conta das eleições passada e a próxima de 2012 .

Nos mais de quinze anos em que me escondo numa casinha maneira que faz divisa entre o bairro de Vila isabel e grajaú, costumo acompanhar da minha janela, nos dias de eleição, o sobe-e-desce de pessoas humildes que moram lá pra cima da comunidade do morro dos macacos, dezenas, centenas de pessoas humildes, milhares delas que descem a ladeira e que se dirigem às suas seções eleitorais pra exercerem o direito ao voto, neste país em que muitos ainda teimam em chamar de República.

É um lindo espetáculo. Um comovente espetáculo humano onde a gente do asfalto e do morro se apresenta dignificada, altiva, soberba, majestosa, velhos casais, jovens , famílias inteiras, levando crianças pelas mãos, todos com suas roupas domingueiras, (de ver Deus), pessoas convencidas da importância do único voto que possuem e que julgam ser o suficiente pra melhorar o destino de sua rua, de sua comunidade, de sua família, de si próprios e até da nossa cidade maravilhosa.

Numa hora dessas, me sinto reconfortada: bem ou mal, manipulada ou não, consciente ou inconscientemente o povão mostra a sua força silenciosa, a sua imensa força, a única que legitima e sacramenta o poder que ele, o povo concede aos que aspiram ser nossos próximos governantes.

Torço pra que em 2012 a galera carioca na hora de apertar os dedinhos na urna lembra bem da pilantragem, da covardia, da roubalheiras, que esses politicos vagabundos estão aprontando, e vote direitinho dessa vez. No fundo, no fundo, torço mesmo é pra que o povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados de tanto sofrimentos seja minimamente respeitado pelos vitoriosos de amanhã. Respeitado e temido, porque, se não for assim, não tem problema, a gente aprende, a gente dá aquela espiadinha melhor, a gente deixa de ser aloprados e ano que vem, a gente volta. Tremei, candidatos! Tremei vereadores! Tremei Eduardo fanfarrão!Prestai atenção: lá vem o Brasil descendo a ladeira.

Nenhum comentário: