terça-feira, 21 de outubro de 2008

SILENCIO

O silêncio desenhado pela mãe natureza

Como é lindo ficar sentadinho à beira-mar em uma cadeirinha de balanço ao entardecer! Eram os últimos minutos do dia em que o sol ainda mostrava sua exuberância, mas de maneira mais branda. Seus raios já não faziam doer à pele e tive sorte, pois não tinha mais ninguém em volta. Éramos apenas eu e o mar.

Dei uma olhada panorâmica como se estivesse tomando conta do pedaço e, em seguida, me estiquei na cadeira, como se quisesse me deitar sobre todo o mar. A leve brisa acariciando minha cabeça, mas o suficiente para sentir a cutucar suavemente as partes da cabeça.

Dizem que o mar mobiliza medos, pois a mim mobilizou harmonia, paz e bem estar. Mais que isso, meus medos se foram e é sempre assim quando estou diante do mar. Por isso talvez eu precise tanto do mar. Meses sem conviver pelo menos um dia com essa imensidão salgada me tornam ansiosa e carente de seus feitos terapêuticos. A grandeza do mar me contamina e minha insignificância por alguns momentos é substituída por uma sensação de poder incontestável, como se o tanque da minha alma fosse abastecido do mais puro combustível e me deixasse pronto para muitas viagens sem importarem a direção ou os perigos.

De alguma forma, aquilo que as religiões chamam Deus, eu sinto intenso em cada gota de água. Não é somente aí que sinto a presença Dele, mas da mesma forma que o infinito do céu é expressão de sua existência, o mar também me deixa pleno Dele, pois são as infinitudes se misturando comigo.

Para mim, no mar, Deus se manifesta de diversas formas. Uma delas está relacionada com a audição. O vento faz aquele zummmmm nos meus ouvidos; as ondas fazem aquele chuáaaaaaaaa, enquanto vão se consumindo em direção à praia, depois daquele plafttt, ao quebrar ainda meio longe da praia. Outra se relaciona com a visão. Aquela imensidão azul me faz mergulhar em mim mesmo e desvendar segredos que até então estavam guardados a sete chaves; aquele véu de noiva desenhado pelas ondas na areia ameniza as tensões acumuladas em meus pés em mais um dia intenso de trabalho. Não necessito de muito tempo para ser contaminado por toda essa grandeza, mas a vontade é deixar o tempo passar e ali permanecer até que o sol, ao ir embora, coloque milhares de substitutos na abóbada celeste.

Tudo o que descrevi acima foi maravilhoso sentir e sempre que me aproximo do mar o mesmo se repete. No entanto, no mar, curiosamente nunca consegui ouvir a voz do silêncio e, pasmem, quando eu a ouvi pela primeira vez, me dei conta que é um dos sons mais doces e agradáveis de serem ouvidos. Gosto de Beethoven, adoro Bach e Mozart me encanta. Mas quando ouço o silêncio, o mesmo tipo de emoção me é aflorada e com a mesma intensidade. Não é fácil ouvir o silêncio, já vou avisando, mas se já tentou uma vez, continue tentando, pois o dia em que conseguir ouvi-lo pela primeira vez vai querer ouvir sempre, como uma melodia que você ouve e ela lhe harmoniza a mente.

Sempre gostei de morar em lugares sossegados. Uma vez acordei de madrugada e deitadinha em minha cama, encolhidinho debaixo do cobertor, veio a surpresa: ouvi pela primeira vez a voz do silêncio. Não queria dormir mais, pois se travou um diálogo. Não fiquei louca não. Quando conversamos com o silêncio não precisamos falar absolutamente nada, pois a comunicação com ele não depende de palavras. Com essa voz surda entendi que as palavras encobrem enquanto o silêncio revela.

Outra situação em que ouvi essa voz maravilhosa foi em acampamento. Algumas vezes já acampei e dormi em barracas improvisadas com pedaços de pau e folhas de palmeiras no meio da floresta. Impressionante como o silêncio aí fala mais alto. Você não precisa fazer absolutamente nada, apenas ficar quietinho que aos poucos as forças do silêncio se misturam com as características da natureza. Você é despido naturalmente de todos os seus limites e sentimentos negativos e logo um sentimento de proteção e uma profunda paz o fazem adormecer como que embalado pela mamãe natureza. Nana, neném!

BJKS DA VAN

Um comentário:

Unknown disse...

Ohhhhhhh Vannn lindoooooo simplesmente ...

bjão grandão